quarta-feira, 19 de outubro de 2022

19 de Outubro, seu significado e a importância de Parnaíba para a data

 


 


   Às margens do Rio Ipiranga – no dia 7 de setembro de 1822 – Dom Pedro I declarou a independência do Brasil – cujo “status”, até aquele momento, era a de colônia portuguesa – ao lado de seus compatriotas. Tal ação torna-se a consequência de atos como a chegada da família real e até do Dia do Fico, assim como serviu para iniciar o processo de separação da coroa portuguesa da coroa brasileira, que há muito tempo vinha sendo contida pela metrópole europeia.

 Consequentemente, as notícias a respeito do ocorrido começaram a ser divulgadas por toda a “colônia-nação”. Por exemplo, as províncias localizadas ao sul do Brasil, após ouvirem sobre a conjuntura orquestrada pelos patriotas, decidem então aderir ao movimento. Regiões como a Bahia, que já estava em conflito, recebem então a notícia e se tornam agora províncias do Império do Brasil.

   Todavia, deve ter em mente que, diferente da região Sul, grande parte das notícias divulgadas demoravam a chegar ao Nordeste, a ponto da maioria das informações advirem somente após vários dias. Tal exemplo é a província do Piauí, cuja “cidade-luz” era a Vila de Parnaíba, que há muito tempo – à luz de ideais iluministas – vinha a esperar o desatamento dos laços com o Reino de Portugal. No entanto, deve ser memorado o fato de embora Parnaíba ser uma vila bastante influente, a capital da província era Oeiras, cujo governador de todo o Piauí era o recém chegado militar português João José da Cunha Fidié.

   Fidié era um veterano de guerra no qual teria participado das guerras napoleônicas e sendo consequentemente bastante homenageado na Europa, por esse motivo, Dom João VI – rei de Portugal – ordena que o oficial português vá para a colônia manter a ordem e – segundo o historiador parnaibano Fonseca Neto – “garantir os interesses diretos do rei de Portugal, afastada outra qualquer variável que não seja exprimir fidelidade ao soberano-pai, João VI”.

O herói de guerra português logo é encarregado de ocupar o cargo de Governador das Armas da Província do Piauí, chegando assim em Oeiras em agosto de 1822. Estava claro que havia uma tensão sobre a colônia, eventos e fatores colaboravam para um sentimento de conflito de ideias iminente. Antes mesmo da chegada do então governador – aproximadamente em 1821 –, a corte portuguesa teria ordenado à província o juramento à Constituição Portuguesa devido demonstrações de apoio ao separatismo da colônia. 

   A região em sua essência era econômica e geograficamente importante para ambas as coroas – portuguesas e brasileiras –, uma vez que era uma das maiores produtoras e exportadoras de carnes, dessa forma – segundo arquivos do Governo do Piauí – era comum os viajantes cantarem acerca de “buscar um boi do Piauí”, uma vez que abordava a questão de ser uma província cuja agropecuária estava em ascensão. Outro motivo era por ter a facilidade de comunicação com o interior da região – visto que a capital da província se localizava internamente.

 Dentre esses motivos, havia também o fator de preocupação, uma vez que a Vila de São João da Parnaíba se apresentava como uma cidade intelectualmente influente, com figuras ilustres e também por ter saída para o mar, facilitando o comércio, mas também a chegada de notícias e ideias iluministas. Era missão de Portugal deter o surgimento de tais levantes e evitar o que já ocorria nas províncias da Bahia e no sul da província do Ceará.

Todavia, já havia um sentimento de se emancipar por muito tempo na província do Piauí, essa sensação era movida por ideais iluministas provenientes da França e Estados Unidos. Simultaneamente, vinha também de revoltas já ocorridas na colônia, como a Revolução Pernambucana – ocorrida em 1817 – e inclusive da própria conjuração mineira cujo mártir foi o alferes Tiradentes. Ambas apresentavam a ideia de se separar da metrópole portuguesa e consequentemente as revoluções posteriores também tinham o sonho de se tornar independente de Portugal.

   Paralelamente, devido à lentidão das cartas, todo o Norte-Nordeste se encontra em uma enorme desinformação – exemplo disto é a província do Ceará, que estava divida entre o que acreditavam no ocorrido ou não. Ao seguir essa lógica, infere-se, portanto que essas regiões permanecem como colônias portuguesas e se torna missão da corte evitar que a notícia se espalhe. Entretanto, o que eles temem se realiza: As notícias sobre a declaração de Dom Pedro I “tocam” em solo parnaibano em meados do final de setembro-outubro de 1822, o que gera um enorme alvoroço para o governo português e alegria para os emancipadores.


   Entre os que comemoram por causa da notícia, estava Simplício Dias da Silva – filho de Domingos Dias da Silva –, cuja família possuía respeito e importância á vila de Parnaíba. Simplício via seu comércio prosperar diante do solo parnaibano, consequentemente, estava sempre informado a respeito das notícias da capital. Por esse motivo, foi rapidamente influenciado por ideais de liberdade e independência, reunindo assim um grupo de insurgentes pela vila que eram a favor da separação de Portugal.

Além do mais, ao lado de Simplício Dias, havia figuras importantes como o poeta e inventor Leonardo de Carvalho Castelo Branco – escritor liberal, apoiou o movimento assim que declarado – cuja participação em relação ao processo de independência das províncias do Norte é de grande valor, visto que foi um dos principais articuladores para a emancipação e inclusive trabalhou em prol da liberdade ao reunir um grande contingente de compatriotas pelo Piauí e região.

Ademais, outro personagem destacável é o notório juiz da vila de Parnaíba doutor João Cândido de Deus e Silva, que após receber a notícia da emancipação brasileira, viu-se cercado pelas ideias de Simplício e Leonardo, consequentemente aderindo à causa por meio de uma citação disponível na Câmara dos Deputados: “A melhor, a maior, a mais rica, a mais populosa parte do Brasil tem se declarado a favor da causa da independência; como persuadir-nos que o resto não siga a mesma causa? Ou quererão os povos olhar de sangue frio o seu país dividido, seguindo o sul um sistema e o norte outro?”.

Segundo o Reginaldo Miranda – membro da Academia Piauiense de Letras –, enquanto João Cândido de Deus era quem planejava as ideias e as organizava, e Simplício financiava o movimento, havia também o cargo de liderar a revolta caso houvesse um conflito armado, e este cargo era ocupado pelo militar José Francisco de Miranda Osório, no qual após ser preso em Oeiras, conseguiu mudar para Parnaíba, a fim de manter a revolução.

Durante esse processo, os portugueses já se sentiam ameaçados por causa das notícias – eles esperavam que sofressem consequências como linchamentos e indícios de perseguições, por essa via, foram decretadas várias cartas para o então Juiz da Vila João Cândido, que apesar de receber pedidos dos portugueses para mudar de vila, não via tal ato como necessário, a ponto de recusar todos.

Com os protagonistas do movimento assim situados e os eventos já ocorridos, Simplício Dias e seus compatriotas se reúnem então em frente à Câmara Municipal de Parnaíba em 19 de Outubro de 1822. Leonardo Castelo Branco, João Cândido de Deus e o próprio Simplício declaram ali a adesão da província do Piauí – e consequentemente do apoio da vila de São João da Parnaíba – ao processo da independência do Brasil. Vale novamente ressaltar que apesar de Parnaíba não ser a capital da província, ela possuía a capacidade de influenciar outras vilas e arraiais.

Consequentemente, vilas como Campo Maior e a própria capital Oeiras começaram a iniciar levantes inspirados ao ocorrido em 19 de Outubro. Deste modo, torna-se acachapante afirmar que a vila de Parnaíba foi a pioneira no processo de independência das províncias do Norte. Por exemplo, posteriormente, o imperador Dom Pedro I agracia a vila ao dar o título de “Metrópole das Províncias do Norte” – nome eternizado no Centro Cívico de Parnaíba – e convida o líder do movimento – Simplício Dias – para ser o primeiro presidente da província como recompensa por tamanho ato.

Em uma visão mais ampla, pode-se considerar a declaração da adesão do Piauí como o primeiro passo tomado para o acontecimento da Batalha do Jenipapo, uma vez que após a reunião de Simplício, o governador Fidié decide marchar rumo à vila de Parnaíba a fim de suprimir a revolução. Logo, infere-se, portanto que a adesão do Piauí à independência gera diversas consequências que surgem em longo prazo, sendo fundamental o conhecimento da participação do Piauí para o entendimento dos futuros acontecimentos na região.

A Importância da data atualmente

Futuramente a Assembleia Legislativa do Piauí reconhece a importância de 19 de Outubro, e por meio disso, declara-o como feriado estadual e dia do Piauí, além de personagens como o poeta Leonardo Castelo Branco e o militar Francisco de Miranda Osório serem reconhecidos como “heróis do estado”, dessa forma, torna-se perceptível o quão necessário foi a Vila de Parnaíba ter protagonizado o papel durante a convulsão nacional mediante a independência do Brasil.

No entanto, é acachapante afirmar que grande parte da população parnaibana não reconhece que sua própria cidade natal foi o palco para um dos momentos mais decisivos da história do Brasil, caso não houvessem declarado adesão, seria provável que o governo de Fidié mantivesse o poder e autoridade na região do Piauí e consequentemente o Brasil que conhecemos hoje não seria possível existir, uma vez que todo o Norte poderia permanecer subjugado, ou pior – fragmentado.

Consequentemente, a história sofre o risco de ser apagada, ou inclusive negligenciada posteriormente por causa do desconhecimento da importância da cidade para o Norte-Nordeste, dessa forma, nasceria ideias errôneas no qual afirmariam que a região Norte do Brasil pouco interferiu para a independência do Brasil, o que seria historicamente errado, além de funcionar como prefácio para o surgimento de prováveis reações preconceituosas contra a região.

A declaração da adesão à independência ocorrido em Parnaíba completará 200 anos e está imortalizada em estruturas como o “Monumento sesquicentenário da independência do Piauí” e o próprio “Monumento da Independência do Brasil”, que apesar do último apresentar a independência de um modo geral, sua própria presença faz com que seja lembrada a ação de patriotas parnaibanos, como Simplício Dias e João Cândido de Deus e Silva, que, guiados pelo sentimento de liberdade, decidiram impor-se ao regime colonial português, a fim de que surgisse uma nova pátria, esta, americana, brasileira e acima de tudo, livre.

 

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