Às margens
do Rio Ipiranga – no dia 7 de setembro de 1822 – Dom Pedro I declarou a
independência do Brasil – cujo “status”, até aquele momento, era a de colônia
portuguesa – ao lado de seus compatriotas. Tal ação torna-se a consequência de
atos como a chegada da família real e até do Dia do Fico, assim como serviu
para iniciar o processo de separação da coroa portuguesa da coroa brasileira,
que há muito tempo vinha sendo contida pela metrópole europeia.
Consequentemente,
as notícias a respeito do ocorrido começaram a ser divulgadas por toda a
“colônia-nação”. Por exemplo, as províncias localizadas ao sul do Brasil, após
ouvirem sobre a conjuntura orquestrada pelos patriotas, decidem então aderir ao
movimento. Regiões como a Bahia, que já estava em conflito, recebem então a
notícia e se tornam agora províncias do Império do Brasil.
Todavia,
deve ter em mente que, diferente da região Sul, grande parte das notícias
divulgadas demoravam a chegar ao Nordeste, a ponto da maioria das informações
advirem somente após vários dias. Tal exemplo é a província do Piauí, cuja
“cidade-luz” era a Vila de Parnaíba, que há muito tempo – à luz de ideais
iluministas – vinha a esperar o desatamento dos laços com o Reino de Portugal.
No entanto, deve ser memorado o fato de embora Parnaíba ser uma vila bastante
influente, a capital da província era Oeiras, cujo governador de todo o Piauí
era o recém chegado militar português João José da Cunha Fidié.
Fidié era
um veterano de guerra no qual teria participado das guerras napoleônicas e
sendo consequentemente bastante homenageado na Europa, por esse motivo, Dom
João VI – rei de Portugal – ordena que o oficial português vá para a colônia
manter a ordem e – segundo o historiador parnaibano Fonseca Neto – “garantir os
interesses diretos do rei de Portugal, afastada outra qualquer variável que não
seja exprimir fidelidade ao soberano-pai, João VI”.
O herói de guerra português logo é encarregado de
ocupar o cargo de Governador das Armas da Província do Piauí, chegando assim em
Oeiras em agosto de 1822. Estava claro que havia uma tensão sobre a colônia,
eventos e fatores colaboravam para um sentimento de conflito de ideias
iminente. Antes mesmo da chegada do então governador – aproximadamente em 1821
–, a corte portuguesa teria ordenado à província o juramento à Constituição
Portuguesa devido demonstrações de apoio ao separatismo da colônia.
A região em
sua essência era econômica e geograficamente importante para ambas as coroas –
portuguesas e brasileiras –, uma vez que era uma das maiores produtoras e
exportadoras de carnes, dessa forma – segundo arquivos do Governo do Piauí –
era comum os viajantes cantarem acerca de “buscar um boi do Piauí”, uma vez que
abordava a questão de ser uma província cuja agropecuária estava em ascensão.
Outro motivo era por ter a facilidade de comunicação com o interior da região –
visto que a capital da província se localizava internamente.
Dentre esses
motivos, havia também o fator de preocupação, uma vez que a Vila de São João da
Parnaíba se apresentava como uma cidade intelectualmente influente, com figuras
ilustres e também por ter saída para o mar, facilitando o comércio, mas também
a chegada de notícias e ideias iluministas. Era missão de Portugal deter o
surgimento de tais levantes e evitar o que já ocorria nas províncias da Bahia e
no sul da província do Ceará.
Todavia, já havia um sentimento de se emancipar por
muito tempo na província do Piauí, essa sensação era movida por ideais
iluministas provenientes da França e Estados Unidos. Simultaneamente, vinha
também de revoltas já ocorridas na colônia, como a Revolução Pernambucana –
ocorrida em 1817 – e inclusive da própria conjuração mineira cujo mártir foi o
alferes Tiradentes. Ambas apresentavam a ideia de se separar da metrópole
portuguesa e consequentemente as revoluções posteriores também tinham o sonho
de se tornar independente de Portugal.
Paralelamente, devido à lentidão das cartas, todo o Norte-Nordeste se encontra em uma enorme desinformação – exemplo disto é a província do Ceará, que estava divida entre o que acreditavam no ocorrido ou não. Ao seguir essa lógica, infere-se, portanto que essas regiões permanecem como colônias portuguesas e se torna missão da corte evitar que a notícia se espalhe. Entretanto, o que eles temem se realiza: As notícias sobre a declaração de Dom Pedro I “tocam” em solo parnaibano em meados do final de setembro-outubro de 1822, o que gera um enorme alvoroço para o governo português e alegria para os emancipadores.
Entre os
que comemoram por causa da notícia, estava Simplício Dias da Silva – filho de
Domingos Dias da Silva –, cuja família possuía respeito e importância á vila de
Parnaíba. Simplício via seu comércio prosperar diante do solo parnaibano,
consequentemente, estava sempre informado a respeito das notícias da capital.
Por esse motivo, foi rapidamente influenciado por ideais de liberdade e
independência, reunindo assim um grupo de insurgentes pela vila que eram a
favor da separação de Portugal.
Além do mais, ao lado de Simplício Dias, havia
figuras importantes como o poeta e inventor Leonardo de Carvalho Castelo Branco
– escritor liberal, apoiou o movimento assim que declarado – cuja participação
em relação ao processo de independência das províncias do Norte é de grande
valor, visto que foi um dos principais articuladores para a emancipação e
inclusive trabalhou em prol da liberdade ao reunir um grande contingente de
compatriotas pelo Piauí e região.
Ademais, outro personagem destacável é o notório
juiz da vila de Parnaíba doutor João Cândido de Deus e Silva, que após receber
a notícia da emancipação brasileira, viu-se cercado pelas ideias de Simplício e
Leonardo, consequentemente aderindo à causa por meio de uma citação disponível
na Câmara dos Deputados: “A melhor, a maior, a mais rica, a mais populosa parte
do Brasil tem se declarado a favor da causa da independência; como
persuadir-nos que o resto não siga a mesma causa? Ou quererão os povos olhar de
sangue frio o seu país dividido, seguindo o sul um sistema e o norte outro?”.
Segundo o Reginaldo Miranda – membro da Academia
Piauiense de Letras –, enquanto João Cândido de Deus era quem planejava as
ideias e as organizava, e Simplício financiava o movimento, havia também o
cargo de liderar a revolta caso houvesse um conflito armado, e este cargo era
ocupado pelo militar José Francisco de Miranda Osório, no qual após ser preso
em Oeiras, conseguiu mudar para Parnaíba, a fim de manter a revolução.
Durante esse processo, os portugueses já se sentiam
ameaçados por causa das notícias – eles esperavam que sofressem consequências
como linchamentos e indícios de perseguições, por essa via, foram decretadas
várias cartas para o então Juiz da Vila João Cândido, que apesar de receber
pedidos dos portugueses para mudar de vila, não via tal ato como necessário, a
ponto de recusar todos.
Com os protagonistas do movimento assim situados e
os eventos já ocorridos, Simplício Dias e seus compatriotas se reúnem então em
frente à Câmara Municipal de Parnaíba em 19 de Outubro de 1822. Leonardo
Castelo Branco, João Cândido de Deus e o próprio Simplício declaram ali a
adesão da província do Piauí – e consequentemente do apoio da vila de São João
da Parnaíba – ao processo da independência do Brasil. Vale novamente ressaltar
que apesar de Parnaíba não ser a capital da província, ela possuía a capacidade
de influenciar outras vilas e arraiais.
Consequentemente, vilas como Campo Maior e a própria
capital Oeiras começaram a iniciar levantes inspirados ao ocorrido em 19 de
Outubro. Deste modo, torna-se acachapante afirmar que a vila de Parnaíba foi a
pioneira no processo de independência das províncias do Norte. Por exemplo,
posteriormente, o imperador Dom Pedro I agracia a vila ao dar o título de
“Metrópole das Províncias do Norte” – nome eternizado no Centro Cívico de Parnaíba
– e convida o líder do movimento – Simplício Dias – para ser o primeiro
presidente da província como recompensa por tamanho ato.
Em uma visão mais ampla, pode-se considerar a
declaração da adesão do Piauí como o primeiro passo tomado para o acontecimento
da Batalha do Jenipapo, uma vez que após a reunião de Simplício, o governador
Fidié decide marchar rumo à vila de Parnaíba a fim de suprimir a revolução.
Logo, infere-se, portanto que a adesão do Piauí à independência gera diversas
consequências que surgem em longo prazo, sendo fundamental o conhecimento da
participação do Piauí para o entendimento dos futuros acontecimentos na região.
A Importância da data atualmente
Futuramente a Assembleia Legislativa do Piauí
reconhece a importância de 19 de Outubro, e por meio disso, declara-o como
feriado estadual e dia do Piauí, além de personagens como o poeta Leonardo
Castelo Branco e o militar Francisco de Miranda Osório serem reconhecidos como
“heróis do estado”, dessa forma, torna-se perceptível o quão necessário foi a
Vila de Parnaíba ter protagonizado o papel durante a convulsão nacional
mediante a independência do Brasil.
No entanto, é acachapante afirmar que grande parte
da população parnaibana não reconhece que sua própria cidade natal foi o palco
para um dos momentos mais decisivos da história do Brasil, caso não houvessem
declarado adesão, seria provável que o governo de Fidié mantivesse o poder e
autoridade na região do Piauí e consequentemente o Brasil que conhecemos hoje
não seria possível existir, uma vez que todo o Norte poderia permanecer
subjugado, ou pior – fragmentado.
Consequentemente, a história sofre o risco de ser
apagada, ou inclusive negligenciada posteriormente por causa do desconhecimento
da importância da cidade para o Norte-Nordeste, dessa forma, nasceria ideias
errôneas no qual afirmariam que a região Norte do Brasil pouco interferiu para
a independência do Brasil, o que seria historicamente errado, além de funcionar
como prefácio para o surgimento de prováveis reações preconceituosas contra a
região.
A declaração da adesão à independência ocorrido em
Parnaíba completará 200 anos e está imortalizada em estruturas como o
“Monumento sesquicentenário da independência do Piauí” e o próprio “Monumento
da Independência do Brasil”, que apesar do último apresentar a independência de
um modo geral, sua própria presença faz com que seja lembrada a ação de
patriotas parnaibanos, como Simplício Dias e João Cândido de Deus e Silva, que,
guiados pelo sentimento de liberdade, decidiram impor-se ao regime colonial
português, a fim de que surgisse uma nova pátria, esta, americana, brasileira e
acima de tudo, livre.
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