Forma-se um culto
Segundo historiadores, o culto se inicia nos arredores de Villa Bella, na qual o jovem antes referido pregou ao povo que Dom Sebastião em breve retornaria em um local chamado Pedra Bonita - lá, as pedras presentes no local se transformariam em um grandioso palácio, e aqueles que estivessem com ele, se tornariam ricos e (conforme alguns rumores) deixariam de "serem negros para se tornarem brancos". Logo, toda aquela população sertaneja, que vivia em plena miséria, agarrou-se à crença sebastianista e prontamente migraram para a chamada agora Pedra do Reino, estabelecendo-se lá uma forma de "reino" pelos próprios seguidores, tendo como "Rei provisório" João Antônio, sacerdotes e um "conselheiro" do rei, que se chamava João Ferreira.
Práticas como a poligamia se tornam comum no local, além de longas festas com bebidas e alucinógenos locais. Segundo alguns relatos, João Antônio portava consigo um folheto de cordel e duas pedras preciosas, que ele afirmava serem provas de que Dom Sebastião estava próximo.
O início e fim do massacre
Com o passar do tempo, o "conselheiro" João Ferreira passou a adotar ideias consideradas macabras - passou a pregar que para que Sebastião retornasse ao local, seria necessário que "regassem o solo e limpassem as pedras com sangue", a partir daí começam a surgir maléficos rituais de sacrifícios, em que mães jogavam seus filhos recém-nascidos nas rochas e idosos eram decapitados para lavarem a Pedra do Reino, conta-se inclusive que, durante uma alucinação, o sogro de João Antônio teria pego seus dois netos e com eles saltado de uma das rochas, matando ambos - diz-se que os primeiros migrantes foram 300 sertanejos, destes, 50 foram mortos no primeiro ritual, e 80 no segundo.
Após tamanhos relatos macabros serem espalhados pelos povoados próximos, a notícia chega aos ouvidos do Major de polícia Manoel Pereira da Silva, junto com suas tropas, eles enfrentam rapidamente os fanáticos de Pedra Bonita em meados de Maio de 1838, lá as tropas policiais também sofrem baixas, no entanto o "reino" é desfeito com sucesso e o Sebastianismo se torna apenas uma memória na região.
Conclusão
Sem dúvidas, este incidente tornou-se memória e até patrimônio histórico de São José do Belmonte, no munícipio, são realizadas as festividades denominadas "Cavalgadas", que retratam o "Reino de Pedra Bonita". Ariano Suassuna posteriormente lança uma de suas primeiras obras marcantes chamada de "Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta" inspirada no ocorrido com João Antônio e seu conselheiro João Ferreira. Mais tarde, quando secretário de Cultura, elabora o local e transforma-o em uma "ilumiara", isto é, um palco de teatros onde ocorreu o massacre.
Além do mais, Euclides da Cunha registra o ocorrido na obra "Os Sertões", onde podemos ler um trecho que diz:
"Este lugar foi, em 1837, teatro de cenas que recordam as sinistras solenidades religiosas dos achantis. Um mamaluco ou cafuz, um iluminado, ali congregou toda a população dos sítios convizinhos e, engrimpando-se à pedra, anunciava, convicto, o próximo advento do reino encantado do rei D. Sebastião. Quebrada a pedra, a que subira, não a pancadas de marreta, mas pela ação miraculosa do sangue das crianças, esparzido sobre ela em holocausto, o grande rei irromperia envolto de sua guarda fulgurante, castigando, inexorável, a humanidade ingrata, mas cumulando de riquezas os que houvessem contribuído para o desencanto."
Sem dúvidas podemos refletir - qual o motivo de algo tão macabro ter existido? Seria apenas por poder? Criar um reino fantasioso apenas para controlar um punhado de sertanejos que somente estavam lá porque buscavam esperança? O massacre de Pedra Bonita tão cedo deve ser esquecido, e sem dúvidas jamais deve se repetir.
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