quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O Cajueiro de Humberto de Campos - um monumento (ainda) incompleto

 


   É fato que passei por um longo hiato sem escrever postagens ou notícias, devo dizer que não foi por falta de conteúdos, mas sim para reflexões acerca de propósitos, e recentemente descobri mais um motivo para transmitir tais fatos. Tal resposta encontrava-se em uma grande atração parnaibana e ela se chama "Cajueiro de Humberto de Campos", cuja história do monumento é apresentada no próximo parágrafo.

   Humberto de Campos Veras nasceu na cidade de Miritiba, Maranhão, em 25 de Outubro de 1886, filho de Joaquim Gomes de Farias Veras e Ana Theodolina de Campos Veras, Humberto perdeu seu pai ainda quando criança - aos 6 anos de idade. Logo depois, viaja com a sua mãe, chegando a Parnaíba em meados de 1894, uma vez que sua família possuía uma casa na cidade, dois anos depois é construída outra casa, sendo esta também ao lado da qual eles moravam, é no quintal desta residência que ele encontra a semente do cajueiro, como retratado na obra "Um amigo de infância":

"No dia seguinte ao da mudança para a nossa pequena casa dos Campos, em Parnaíba, em 1896, toda ela cheirando ainda a cal, a tinta e a barro fresco, ofereceu-me a Natureza, ali, um amigo. Entrava eu no banheiro tosco, próximo ao poço, quando os meus olhos descobriram no chão, no interstício das pedras grosseiras que o calçavam, uma castanha de caju que acabava de rebentar, inchada, no desejo vegetal de ser árvore. Dobrado sobre si mesmo, o caule parecia mais um verme, um caramujo a carregar a sua casca, do que uma planta em eclosão. A castanha guardava, ainda, as duas primeiras folhas unidas e avermelhadas, as quais eram como duas joias flexíveis que tentassem fugir do seu cofre.

- Mamãe, olhe o que eu achei! - gritei, contente, sustendo na concha das mãos curtas e ásperas o mostrengo que ainda sonhava com o sol e com a vida.

- Planta, meu filho... Vai plantar... Planta no fundo do quintal, longe da cerca...

Precipito-me, feliz, com a minha castanha viva. A trinta ou quarenta metros da casa, estaco. Faço com as mãos uma pequena cova, enterro aí o projeto de árvore, cerco-o de pedaços de tijolo e telha. Rego-o. Protejo-o contra a fome dos pintos e a irreverência das galinhas. Todas as manhãs, ao lavar o rosto, é sobre ele que tomba a água dessa ablução alegre. Acompanho com afeto a multiplicação das suas folhas tenras. Vejo-as mudar de cor, na evolução natural da clorofila. E cada uma, estirada e limpa, é como uma língua verde e móbil, a agradecer-me o cuidado que lhe dispenso, o carinho que lhe voto, a água gostosa que lhe dou."

Pouco tempo depois, a prefeitura comprou o terreno do cajueiro, transformando-o em ponto turístico.
    Com o passar dos anos, a árvore cresce cada vez mais, da mesma maneira que Humberto, todavia ele se muda para São Luís e posteriormente para o Rio de Janeiro, consagrando-se assim um grande escritor e futuro membro da Academia Brasileira de Letras, quanto ao seu cajueiro, este se torna um símbolo importante para a cidade. Consequentemente a prefeitura compra o terreno onde ela está, murando o quintal completamente e tornando-a uma grande atração turística, obtendo, portanto, em 2022, 126 anos de vida.

    Hoje passei pelo local e decidi ver o grandioso monumento, por sinal um lugar bastante belo, visto que ao longo dos muros do quintal são apresentada referências ao cajueiro contidas em diversas obras do escritor, todavia veio à mente uma dúvida impertinente: se aquele era o quintal, onde estaria então a casa no qual o escritor passou a sua infância?

   Deduzi que por ser este o quintal da residência, a casa estaria na outra rua, então somente dei a volta e encontrei ao outro lado consequentemente o lar de Humberto de Campos, porém ele se apresentava deteriorado, sem sequer uma pintura adequada. Apesar do fato de apresentar lá uma placa descrevendo o local, ele passa despercebido devido a falta de zelo.

   Consequentemente, pergunto-me: "Por que o município somente se interessou pelo cajueiro ali plantado, mas esqueceu-se do principal - isto é, a casa de infância do renomado escritor?"

    Isso abre uma ampla série de motivos e razões daquela residência ter sido literalmente abandonada, mas também nos promove uma reflexão: Afinal, se somos cidadãos parnaibanos, não deveríamos por si só demonstrar cuidado, respeito e atenção pelo local, antes mesmo do próprio governo? Este próprio incidente esquecido por nós também promove um objetivo que precisaríamos ter desde os primeiros anos de nossa vida - preservar o que é valioso e guardá-lo para a posteridade. 



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